Depressão

Ninguém dá bola para a depressão

POR GABRIEL ALVES

No post de hoje do Cadê a Cura? trago um texto de uma amiga, Tati Oshiro, que relata suas experiências e impressões sobre a depressão.  Certamente não são poucos os nossos amigos e familiares que sofrem calados com a doença. O relato da Tati, com uma linguagem forte e natural,  pode ajudar quem nunca teve um contato tão próximo com a doença a entender um pouquinho desse mundo do ponto de vista de quem mais sofre –o doente.

 

Trintei na depressão, por Tati Oshiro*

Fui diagnosticada na época em que meus amigos estavam dando grandes passos em suas vidas e seguindo em frente. De certa forma, eu sei que fiquei pra trás. Às vezes eu me sinto meio esquecida, sabe? Na verdade, às vezes, eu mesma me esqueço.

Assim que eu fui diagnosticada, muitos dos meus amigos estavam comprando apartamentos, noivando, casando. Enquanto eu era hospitalizada (as primeiras vezes),eles estavam tendo seus primeiros filhos. Carreiras iam em frente, mais bebês nasciam e eu sofria com as recaídas.

Centenas de milhões de pessoas no mundo enfrentam problemas de saúde mental. Mesmo assim o sentimento é que estamos vivendo esse desafio sozinhos. Isso porque a maioria das pessoas não consegue falar sobre o assunto. Existe um tabu! E isso não é culpa delas. Nem sua. Nem minha.

No Brasil,  o número de suicídios por motivos ligados a depressão cresceu mais de sete vezes nos últimos 16 anos –e ainda pouco se fala abertamente a respeito. É triste dizer, mas acho que, de certa forma, nós –doentes– já estamos acostumados.

Responda: qual das opções é a mais bem-aceita quando você vai ligar para o seu chefe de manhã e avisar que precisa faltar no trabalho?

1) “Chefe, preciso ficar em casa hoje porque não estou bem disposto, estou com dor de cabeça e enjoo. Acho que é virose!

2) “Chefe, não vou para o escritório hoje porque estou me sentindo muito triste, angustiado e não consigo me levantar da cama. Acho que é depressão!

Todos sabemos a resposta. O mundo consegue aceitar e se sensibilizar quando qualquer outra parte do seu corpo adoece, menos o cérebro.

Há um grande preconceito, uma imagem distorcida das pessoas que lutam contra depressão, ansiedade, bipolaridade, ataque de pânico, TOC…

Sendo sincera, para mim não é fácil falar sobre isso. É foda! E parece que é foda para todo mundo. Tanto que ninguém, no fim das contas, está falando nada.

Nós não vemos isso nas mídias sociais, não vemos na TV. Esse assunto não é gostoso, não é divertido, não é leve. E como não lidamos com o tema, não percebemos a severidade da depressão.

E é sério: a cada 30 segundos, em algum lugar do mundo, alguém tira a própria vida por motivos ligados à doença. E pode ser alguém a dois quarteirões de distância, a dois países ou continentes de distância, mas está acontecendo.

As pessoas precisam saber que depressão não é simplesmente estar triste quando algo não anda bem na vida. Quando você termina com seu namorado, quando você perde uma pessoa amada, ou quando não consegue aquele emprego que tanto queria, isso é tristeza –uma emoção natural.

A depressão real é estar triste mesmo quando tudo na sua vida vai bem.

Por muito tempo, eu acho, eu vivi duas vidas completamente diferentes e uma sentia medo da outra. Eu tinha medo de que as pessoas pudessem me ver como eu realmente era. Por baixo da minha risada, havia sofrimento. Eu escondia muita dor.

Algumas pessoas sentem medo de levar um fora, outras tem medo de tubarões, outras ainda tem medo da morte. Para mim, por muito tempo nessa vida, eu tive medo de mim mesma. Eu tive medo da minha vulnerabilidade, das minhas fraquezas. E esse medo me fazia sentir como se eu estivesse encurralada em um canto, sem outra saída a não ser a morte. Eu penso nisso todos os dias.

Enquanto eu escrevo aqui, eu já pensei novamente, porque essa é a doença, esse é o sofrimento, isso é a depressão. Não é como catapora –uma vez vencida, a doença não se vai para sempre, é uma coisa com a qual se vive, como uma vizinha chata que nunca vai mudar de casa, uma voz que você vai sempre ter que escutar.

E a parte mais assustadora é que, depois de um tempo, você se acostuma, as coisas se tornam “normais”. E aquilo de que você mais sente medo não é a dor lá de dentro, é o preconceito das outras pessoas. É a vergonha, o olhar de desaprovação na cara do amigo, o cochicho nos corredores dizendo que você é fraca e os comentários de que você está louco.

E isso é o que impede de procurar ajuda, fazendo com que você guarde essa dor. E aí você guarda e esconde, mesmo sabendo que é justamente isso está mantendo você na cama todos os dias e fazendo você se sentir vazio, não importa o quanto você se esforce.

Vivemos em um mundo onde,  quando alguém quebra um braço, todo mundo corre para assinar no gesso. Mas a pessoa tem depressão, todo mundo foge.

A depressão é um dos maiores problemas de saúde já documentados e é um dos menos discutidos. O assunto fica de lado, afastado –as pessoas esperem que as coisas se consertem sozinhas.

Mas isso não aconteceu e não vai acontecer. Cultivar essa “esperança” não resolve, só procrastina. 

Não sei qual é a solução, mas o primeiro passo é reconhecer que temos um problema –não vai ser possível encontrar  a resposta enquanto temos medo da pergunta.

Essa mudança de postura tem que começar agora –comigo, com você, leitor, e com outras pessoas que estão sofrendo, que estão escondidas nas sombras. Nós precisamos quebrar o silêncio e falar a respeito.

Se você está enfrentando a depressão, saiba que está tudo bem. Saiba que você só está doente, você não é fraco. A depressão é um problema, não uma identidade.

Mas por mais que eu odeie a depressão, eu sou grata a ela. A doença me empurrou para escuridão para me lembrar que há luz. Minha dor me forçou a ter fé em mim mesma, em outras pessoas, e de que eu posso melhorar e mudar essa situação. Sei que podemos falar sobre isso e lutar contra a ignorância, contra a intolerância, e que podemos aprender a amar quem nós somos –e não quem o mundo quer que sejamos.

Precisamos parar com a ignorância, com a intolerância, com o estigma, com o silêncio, e nos livrar dos tabus.

É preciso dar uma boa olhada para essa realidade e começar a falar, porque a melhor forma de combater esse problema, que as pessoas estão enfrentando sozinhas, é nos fortalecermos juntos.

Apesar dos lugares aonde as estradas me levaram, os 30 anos me trouxeram esperança, desejos e sonhos. O passado não precisa definir o futuro, certo? Eu não terminei ainda, eu não parei. E eu não vou desistir.

 * TATI OSHIRO é formada em administração de empresas e atualmente está estudando inglês no Canadá. Ela também se dedica a ajudar pessoas que, assim como ela, enfrentam doenças mentais e emocionais.
tatioshiro@outlook.com


Comentários

  1. Depressão, minha infância e adolescência convivi com ela, sem ajuda de ninguém, sendo rotulada como fraca e preguiçosa...também vi meus amigos seguindo em frente e eu mergulhada na escuridão...
    Ótimo texto!

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    Respostas
    1. Imagino como tenha sido dificil pra você, passei pelo mesmo, as pessoas diziam que eu agia de determinada maneira por que qjeria chamar atençao...quanto mais falavam mais eu me sentia culpada e inutil, ainda nao superei ainda tenho doloros fases depressivas mas estou lutando até hoje.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. É triste demais eu convivo com isso ha anos, ate ja tentei tirar minha vida. Sò quem sabe a dor é quem realmente passa por isso.

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  4. Bom...
    Minh vida está em altos e baixos... creio que hj não foi bom... mas á única coisa q digo só queria amar e ser amado... ter uma vida normal com a pessoa que amo que posso dizer que sou loucamente apaixonado... faria tudo por ela, estaria sempre ao lado dessa pessoa, pensaria nela primeiro depois em mim, amor é quando pedimos a Deus que essa pessoa não só estejas ao lado dela nessa vida pois Deus nos fez eterno, queria ter essa pessoa do meu lado eternamente... sempre iria cuidar zelar, brigar e fazer a pazes, fazer amor todos os dias... respeitar... dar gargalhadas se aventurar juntos... e o mais importante trabalhar para o nosso Deus vivo.... se levantar juntos eu ele Deus o espírito Santo Jesus contra o inimigo... alcançar os pobres os humildes de coração... pessoas que são julgadas pelos homens os falsos profetas... os que realmente precisam de Deus e iremos até eles juntos... sermos 2 guerreiros na fé em Deus... uma alma gêmea... juntos e juntos... .... .... Era só o que eu queria mas até o momento não tenho... tento de várias maneiras mas só faço errado... se não for pra ser assim queria muito que Deus ouvisse e de imediato me desse outro motivo pra seguir... só queria entender... no momento passa na minha cabeça uma vontade de parar por um ponto final... só Deus pode fazer isso... mas eu quero fazer o bem... fazer o amor dar certo... mas nada vai bem... meu coração já está parando não tenho forças.... eu grito bem alto alguém aí.... no além me ouve...quero amar eu amo mas não sou amado.... o mundo o ser humano precisa ser rejeitado pra amar... precisa sofre pra amar... só queria amar e eu amo mas um amor único se torna fatal... será que contínuo ou coloco um ponto final... não tenho forças... meu desejo era dormir e não acordar só acordar quando tudo tiver bem... Deus te amo com todas as minhas forças... .as por tem q ser assim... que sejas feita a sua vontade me Deus... mas só queria ser amado... minha mãe me ama eu amo ela... meu pai me ama e eu amo ele... meus irmãos me ama e eu amo eles, minhas sobrinhas me ama e eu amo elas minha vó me ama e eu amo ela... só me perdoe e Deus me perdoe mas não consigo viver mas sem um amor do meu lado

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